![](https://static.wixstatic.com/media/78e533_a9898ec0ea8d4b1e82e3d242f614ddf1~mv2_d_2771_1936_s_2.jpg/v1/fill/w_980,h_685,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/78e533_a9898ec0ea8d4b1e82e3d242f614ddf1~mv2_d_2771_1936_s_2.jpg)
Na fronteira entre o noroeste do Estado de São Paulo e Minas Gerais, existe uma usina hidrelétrica chamada Marimbondo, que gera energia com a pressão da água do Rio Grande. O represado dessa usina é um ponto de lazer para pessoas de ambos os Estados e o seu principal atrativo é a pesca. Nas margens da represa foram construídos ranchos, condomínios e clubes.
Meu pai tem um amigo pescador que é cliente fiel de um desses clubes. O lugar oferece uma infraestrutura básica para o lazer com quiosques, piscina, bar, banheiros, estacionamento, parquinho e campo de futebol. Esse amigo passava todos os finais de semana (e até semanas inteiras) no clube. Acredito que ele ainda deve frequentar o lugar com a sua família, mas faz tempo que eu não vou lá.
Minha família já foi convidada várias vezes para ir nesse clube, e quando era possível, nós comparecíamos para nadar, fazer churrasco e pescar. Em um desses finais de semana na beira do rio, outro amigo do meu pai levou um jet-ski para dirigir no Rio Grande. Os filhos dele já tinham prática com o veículo, mas eu nunca havia andado de jet-ski.
Eu estava com medo na primeira vez que subi na garupa. Cheguei a cair na água com o colete salva-vidas, mas foi exatamente essa queda que me fez perder o medo e pensar: “da água não passa”. Era legal cair e subir no jet-ski de novo. Todas as crianças faziam um rodízio para andar no veículo, duas de cada vez. Logo, eu quis dirigir também e os meninos que já sabiam me mostraram como fazer.
Meu irmão, que devia ter quatro ou cinco, também queria ir no jet-ski e eu fiquei de levar ele bem devagar entre as minhas pernas, sem ir muito longe da margem do rio. O problema aconteceu justamente por andar muito devagar. O jet-ski precisa de uma certa velocidade para virar e fazer o retorno, mas sem velocidade você vira o guidão e ele... tomba!
Foi exatamente o que aconteceu. Se eu tivesse experiência poderia ter dirigido um pouco mais rápido ou usado o peso do meu corpo para não tombar, mas na hora eu agarrei meu irmão e pulei na água. Adrenalina se espalhou no meu corpo. Coração disparou. Fiquei desespero. Comecei a sentir câimbra nas pernas. Abri meus olhos e não enxerguei nada. Eu e meu irmão estávamos de colete, mas eu não conseguia voltar para superfície porque eu não batia os braços. Meus braços estavam ocupados segurando meu irmão para cima na esperança de que ele estivesse respirando.
Isso tudo aconteceu muito rápido. Talvez se eu tivesse ficado parado meu corpo emergiria sozinho, mas provavelmente não consegui nadar porque fiquei me debatendo. Não sei com certeza se meu irmão chegou a ficar submerso em algum momento, mas quando eu finalmente pude respirar ele estava com a cabeça para fora da água e chorando.
Comecei a nadar em direção a margem onde estava minha família e os amigos do meu pai esperando. Minha mãe viu tudo e ficou desesperada. Eu não conseguia avançar muito por causa da câimbra, mas um homem veio nadando na nossa direção e pegou meu irmão, eu segurei no ombro dele e voltamos juntos para margem. Acho que o jet-ski ficou virado de ponta cabeça no rio e alguém puxou ele também, porque nós realmente ficamos perto da margem.
Minha preocupação em andar devagar com meu irmão terminou assim. Eu não estava fazendo nenhuma gracinha, mas sei que fui imprudente. Estava tudo errado. Eram duas crianças andando sozinhas de jet-ski. Eu não tinha nenhuma experiência e mais tarde, descobri que até esse veículo precisa de uma habilitação chamada Arrais.
Acredito que meu irmão não deve lembrar com clareza do que aconteceu. Ele era muito pequeno. Eu não fiquei com medo de água, mas agora sou muito mais consciente, principalmente em rios e no mar. O episódio serviu de lição para tomar mais cuidado e aprender que não se vira o jet-ski quando ele está praticamente parado.
Não dirijam sem a Arrais! E aquele aviso de mãe é sério: com água não se brinca.
Comments