Estamos no meio pista com suas amigas e mais dezenas de pessoas que estão dançando e bebendo a juventude que parece estar no seu auge. Tenho certeza de que algumas delas estão buscando o olhar de alguém, um olhar que chame mais atenção do que a música e que transmita interesse.
Eu apenas danço, ou melhor, balanço um pouco de olhos fechados com você, porque sinto que não preciso buscar mais nada. Não consigo me lembrar de qual música tocava naquele momento. Era uma lenta ou agitada? Eu estou lento, escorado em você e com minha cabeça enterrada no seu pescoço.
Quando abro meus olhos, a luz colorida que vem do palco é muito forte para suportar. Então eu desisto e fecho novamente para apenas sentir as sensações ao nosso redor. E eu sinto o cheiro do seu perfume que, estranho ou não, me faz lembrar de tangerina.
Deixo esse aroma levar meus pensamentos para minha infância na casa da minha avó, quando eu passava dias ou tardes inteiras com ela. Essa segunda mãe sempre me mostrou o carinho e o amor de uma família. Com pequenos gestos e grandes histórias ela faz todo o possível para me agradar, por exemplo, descascando tangerinas para eu comer. Mais do que isso, minha avó separava os gominhos, arrancava as sementes e tirava as peles deixando gomos perfeitos para engolir apenas, e eu claro, amava toda aquela paciência.
Enquanto isso eu brincava pelo quintal apertando as cascas para ver o sumo espirrando ou então jogando algumas sementes. As palavras que vem à cabeça junto as lembranças daqueles dias são segurança, confiança, cuidado, carinho, afeto, felicidade, paz e amor. Tudo isso é possível de sentir agora também com você e seu perfume que não é cítrico, mas fresco e acolhedor. Você apareceu como um pomar e agora estou colhendo as frutas mais doces.
Dias depois, em outro ambiente, estamos deitados só eu e você, abraçados e com a minha cabeça novamente no seu pescoço, eu estou sentindo o calor que emana do seu corpo e o perfume que, não estou louco, me faz pensar em tangerina.
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